‘O horário do almoço ainda está longe’, brinca Moraes ao responder defesa de Augusto Heleno
Advogado do ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional pediu a palavra, quando Moraes fez o comentário. Na ocasião, a defesa de Heleno informou que ele ficaria em silêncio e só responderia aos questionamentos da defesa. ‘O horário do almoço ainda está longe’, brinca Moraes ao responder defesa de Heleno
O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, brincou com a defesa do ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional Augusto Heleno nesta terça-feira (10) durante o interrogatório dos réus na ação penal que apura a tentativa de golpe de Estado em 2022.
Na ocasião, o advogado Matheus Milanez pediu a palavra para uma questão de ordem — mecanismo que permite contestar algum procedimento adotado ou pedir esclarecimentos — quando Moraes disse: “Doutor, o horário do almoço ainda está longe”.
Em seguida, Milanez afirmou que, assim como Moraes, ele tinha tomado café reforçado. “Vossa Excelência fique tranquila que assim como Vossa Excelência eu tomei um ‘brunch’ reforçado”, afirmou.
Em seguida, o advogado informou que Augusto Heleno ficaria em silêncio e só responderia aos questionamentos da defesa. Moraes afirmou que, mesmo assim, faria as indagações para que constasse no relatório.
A brincadeira de Moraes com o advogado tem relação com o pedido feito por Milanez na noite desta segunda (9): adiar o horário da sessão de terça para mais tarde, mencionando cansaço, deslocamento e a falta de jantar.
“O motivo da minha intervenção é bem pontual, Excelência”, disse o advogado Matheus Milanez na ocasião. “São 20h, a audiência amanhã é às 9h, e nós viemos em um carro só. Ainda preciso levar o general para casa, e eu mesmo preciso ir para a minha. Eu minimamente quero jantar… Excelência, eu só tomei café da manhã hoje, quase nada mais”, disse o advogado, arrancando risos no plenário”, justificou na sequência.
Audiências
As audiências começaram nesta segunda, quando foram ouvidos o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro e delator do caso, coronel Mauro Cid; e o ex-presidente da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Alexandre Ramagem.
Nesta terça-feira, o ex-comandante da Marinha, Almir Garnier, e o ex-ministro da Justiça, Anderson Torres, também foram ouvidos. Ainda serão ouvido:
Ainda serão interrogados:
Jair Bolsonaro, ex-presidente
Paulo Sérgio Nogueira, ex-ministro da Defesa do governo Bolsonaro
Walter Braga Netto, ex-ministro do governo Bolsonaro e candidato a vice na chapa para a reeleição do ex-presidente.
Em que fase está o julgamento?
Os depoimentos marcam a reta final da instrução processual — fase em que são reunidas provas para embasar o julgamento. É nesse momento que os réus têm a chance de responder às acusações e apresentar suas versões dos fatos.
Segundo a Procuradoria-Geral da República (PGR), o grupo integra o “núcleo crucial” da organização criminosa que atuou para tentar romper a ordem democrática. Entre os réus está o ex-presidente Jair Bolsonaro.
Concluída a fase de interrogatórios, o processo segue para uma etapa de diligências, caso sejam solicitadas por defesa ou acusação. Depois, será aberto o prazo de 15 dias para apresentação das alegações finais, antes de o caso ser levado a julgamento na Primeira Turma do STF.
Primeiro dia de depoimentos
O interrogatório começou com Mauro Cid, que fechou acordo de colaboração premiada com a Polícia Federal. Ele confirmou a veracidade da denúncia da PGR e declarou: “Presenciei grande parte dos fatos, mas não participei deles”.
Cid negou ter sido coagido e reafirmou o conteúdo de seus depoimentos anteriores. Segundo ele, Bolsonaro teve acesso e sugeriu mudanças à chamada “minuta do golpe” — documento com medidas autoritárias para reverter o resultado das eleições de 2022.
Ainda de acordo com o militar, Bolsonaro pediu a retirada do trecho que previa a prisão de autoridades, mas manteve o item que determinava a detenção do ministro Alexandre de Moraes. Cid também afirmou que o então presidente pressionou o ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira, por um relatório crítico às urnas eletrônicas.
Questionado por Moraes, Cid confirmou que Bolsonaro queria um texto “duro” contra o sistema de votação.
O segundo a ser ouvido foi o deputado Alexandre Ramagem, ex-diretor da Abin. Ele disse que o documento em que questiona o resultado das eleições era apenas um rascunho pessoal e não foi entregue a Bolsonaro. Também negou envolvimento na disseminação de desinformação e rechaçou ter usado a Abin para monitorar autoridades:
“Decerto que não fiz monitoramento de autoridades”, afirmou.